Você já parou para pensar quanto tempo gasta nas redes sociais todos os dias? Se a resposta é que você passa mais do que duas horas diárias conectado na internet com fins de entretenimento, talvez seja importante considerar que esse é um comportamento disfuncional. Muitos de nós recorremos às redes sociais como uma forma de escape das dores cotidianas, especialmente quando enfrentamos sentimentos de ansiedade ou ficamos deprimidos.
Neste momento, eu gostaria de propor um pequeno exercício de reflexão: se alguma mágica acontecesse e você pudesse escolher fazer qualquer coisa neste mundo ao invés de consumir conteúdos nas redes sociais, o que você faria? Tire alguns momentos para você refletir sobre isso. Se você pensou em ter contato com outras pessoas, estar na natureza, conhecer lugares novos, experimentar novos sabores, iniciar um novo projeto ou continuar um projeto já iniciado, talvez isso indique exatamente aquilo que está perdendo ao passar tanto tempo online.
Só que, talvez o que ninguém nunca lhe disse é que estar tanto tempo conectado não é um problema em si. Claro que isso gera outras situações desagradáveis, mas não é a causa primária. Passar tanto tempo conectado na verdade é um sintoma de outros problemas que você pode estar passando.
Portanto, convido você a presentear-se com um tempinho para refletir como você tem usado seu tempo e, talvez, refletir no final o quanto esse tempo é precioso e outras formas de utilizá-lo.
Nomofobia não é um problema, é um sintoma
Deixe-me te contar um segredo: você não precisa sentir-se culpado por usar as redes sociais em excesso. É compreensível, pois muitas vezes isso se torna um recurso para nos desconectarmos... a questão é, nos desconectarmos do que? Do que estamos tentando fugir? É exatamente isso que precisamos definir para entender o real problema.
Então, deixa te contar outro segredo: a ansiedade é um camaleão que tem muitas faces, se apresentando como agitação, pensamentos intrusivos, mente acelerada... mas sua máscara preferida é o do medo. E tal qual o rei dos disfarces, a ansiedade se tornou muito boa em se esconder de nós, de parecer invisível, tanto que agora mal a reconhecemos quando ela surge.
Pois bem, essa explicação é necessária para entender que o termo “nomofobia” se refere ao medo de ficar sem um dispositivo móvel ou sem acesso à internet e não percebemos isso como um problema (mal percebemos que isso é um medo).
O antídoto a esse mentiroso é nos observar com atenção. Por isso, tire alguns segundos para pensar: o que você faz quando percebe que o celular não está próximo de você? Como você se sente quando percebe que já faz um tempo desde a última vez que olhou suas notificações? Principalmente, observe se você se acalma simplesmente por olhar a luz do celular, sem qualquer objetivo claro e definido.
Dizer que alguém sofre ou não com nomofobia é complexo, pois se comunicar com amigos pelas redes sociais e até mesmo trabalhar com elas está cada vez mais comum. Contudo, se você não trabalha com redes sociais e a quantidade de horas que você passa nelas somam-se mais do que duas horas diárias, talvez a nomofobia seja um sintoma claro de que o uso das redes sociais está afetando negativamente sua vida.
A questão é que a nomofobia em si não é um problema, mas sim um sintoma da ansiedade. Conforme explico no artigo “Construir valores para uma vida mais significativa”, os seres humanos se tornaram muito bons em se esquivar daquilo que lhes causa angústia, e estar muito ligado nas redes sociais é uma forma de esquiva – sejam dos problemas, das dificuldades ou do próprio vazio existencial.
O fato é que o tempo gasto nas redes sociais pode, por si só, se tornar um comportamento disfuncional por impedir de realizarmos tarefas importantes em nosso dia a dia. Apenas duas horas diárias podem significar até 40% do tempo livre da rotina de um adulto em um centro urbano. Isso é muita coisa, não? Pois, isso significa que quase metade de seu tempo livre não é gasto em atividades prazerosas que podem gerar sentimentos positivos de realização, completude e pertencimento.
Há saída e esperança
O fato de você estar lendo este artigo é um sinal de que está disposto a reconhecer o impacto negativo das redes sociais em sua vida. Assim, é importante saber que existe esperança e saída para essa situação. A vida fora da internet é uma experiência sensorial rica e gratificante. Pode parecer assustador no início, mas ao diminuir o tempo gasto nas redes sociais, você abrirá espaço para uma vida mais significativa.
As redes sociais utilizam o máximo da nossa atenção nas sensações da visão e da audição (nessa ordem), mas exigem um custo alto, de renunciar as experiências que não cabem em uma tela de poucas polegadas, não importa quão colorida e nítida ela seja.
Você consegue se lembrar das vezes em que sentiu uma brisa suave acariciando seu rosto enquanto caminhava em um parque no meio da natureza? Talvez do cheiro de café fresco pela manhã, ou a risada sincera de um amigo durante um encontro? Estas são experiências sensoriais que podem ser facilmente negligenciadas enquanto estamos imersos nas redes sociais.
A boa notícia, é que para a enorme maioria das pessoas é relativamente simples diminuir esse hábito. Existem soluções simples para reduzir o tempo gasto nas redes sociais. Um primeiro passo muito simples é definir um tempo de tela limite. A maioria das redes sociais possui uma configuração de alerta de tempo – ative-a e respeite-a! Use o restante do tempo que passaria nas redes sociais para fazer outras atividades, afinal, muitos de nós tem um livro que gostaria de ler (ou terminar de ler), uma série ou filme para assistir ou um amigo que gostaria de conversar. Ou quem sabe até mesmo produzir algo novo?
Estabeleça regras para o uso das redes sociais e troque-as por outras atividades. Logo você perceberá que variar suas atividades pode te trazer sentimentos como senso de realização e menor sensação de procrastinação.
Libertando-se dos velhos hábitos
Conforme dito antes, acredito que algo importante a ser entendido aqui é que não precisa sentir-se culpado por usar as redes sociais como um escape (quem nunca, não é?). É compreensível que utilizemos desse recurso em momentos difíceis nos quais precisamos nos desconectar do mundo real.
O problema começa realmente quando temos problemas em estabelecer limites para o uso das redes sociais, pois nesse ponto deixamos de fazer outras atividades que são importantes para nós.
Se você sente que o uso prolongado das redes sociais está afetando sua vida de forma negativa, considere buscar a ajuda de um psicólogo. Eles estão preparados para ajudar você a desenvolver estratégias para lidar com a ansiedade, a depressão e os comportamentos disfuncionais que podem estar por trás do seu tempo excessivo nas redes sociais. A mudança é possível, e você não está sozinho nessa jornada.
Lembre-se, a vida fora da internet é uma experiência sensorial rica e gratificante. Ao tomar medidas para equilibrar seu uso das redes sociais, você pode redescobrir alegrias e a satisfações esquecidas nas pequenas coisas da vida real.